Tecnologia da Zasso atraiu a CNH Industrial
A insistência de um homem por quase 20 anos e a aposta de alguns de seus amigos na última década permitiram que o Brasil se tornasse pioneiro no desenvolvimento de equipamentos elétricos para o combate de ervas daninhas. A inovação deu origem à Zasso, empresa que nasceu no interior de São Paulo e atualmente tem sede na Suíça, de onde administra negócios que geram faturamento de até 10 milhões de euros por ano.
A tese que virou projeto surgiu durante a Eco92, no Rio de Janeiro, e seduziu o japonês Satoru Narita. Formado em engenharia mecânica pela Chiba University, no Japão, o ex-vice-presidente executivo da CBC, do Grupo Mitsubishi, começou então a desenvolver equipamentos elétricos para capina com o apoio da Unesp e patrocínio da Companhia Energética de São Paulo (Cesp). Narita se animou e fundou a Sayyou, mas, até 2006, não foi além de protótipos.
Foi quando a Sayyou fechou a primeira parceria com a Fundação Pro-Café para desenvolver uma tecnologia que permitisse certificar cafezais como orgânicos. O caminho foi longo, mas em 2010 a empresa se tornou economicamente viável, com a entrada da família Coutinho como sócia. “Meu tio foi o investidor anjo e eu me tornei sócio de Narita e CEO. Criamos uma solução modular para diferentes culturas e fechamos parceria com a Interp, incubadora da Fundação Manoel de Barros”, afirma Sérgio de Andrade Coutinho Filho.
Os primeiros equipamentos foram vendidos em 2013, para a Embrapa e para a prefeitura do município gaúcho de Santo Cristo que se interessou por um modelo de capina urbana. “Ganhamos prêmios e procuramos investidores, mas apenas há três ou quatro anos, quando conseguimos um aporte da família francesa Ergas, é que tivemos sucesso em desenvolver comercialmente nossos produtos”, afirma Coutinho.
Com a entrada na sociedade da família Ergas, em 2016, a Sayyou se tornou Zasso – que em japonês significa “plantas no lugar errado” – e a sede foi transferida para a Suíça. “Montamos uma holding, da qual a família Coutinho é a controladora, que virou dona das subsidiárias, inclusive da parte brasileira”, explica o executivo, que assumiu o cargo de co-CEO da Zasso Group, responsável pelas operações no Brasil.
No mês passado, o quadro de acionistas foi ampliado com a chegada da CNH Industrial, que adquiriu uma participação minoritária não divulgada. Para as donas das marcas Case e New Holland de máquinas agrícolas, os produtos da Zasso são o futuro do controle de ervas daninhas. “Com a CNH teremos capilaridade para crescer na Europa, na América Latina e, futuramente, nos EUA”, diz Coutinho.
Os equipamentos desenvolvidos pela Zasso que serão comercializados com a marca AgxTend, da CNH, transformam a energia mecânica do trator em energia elétrica. Inicialmente, o foco serão lavouras de laranja e café, mas a intenção é criar equipamentos para grãos, como soja e milho. Até o ano passado, os principais clientes eram vinícolas e prefeituras que cuidam das podas urbanas.
“A capina não pode ser mais química. As plantas estão criando cada vez mais resistência aos herbicidas”, observa Coutinho, que vê suas máquinas como complementares também ao cultivo de orgânicos.
Mas ainda há desafios, e um deles é reduzir o tamanho da eletrônica, sem perda de potência, para tornar viável a fabricação de equipamentos mais leves e mais baratos que possam ser competitivos em plantações de grãos. “Hoje é mais fácil e mais barato o produtor usar um herbicida químico”, diz o executivo. “Por isso precisamos investir para criar produtos mais viáveis”.
Atualmente, o Brasil representa metade do faturamento da Zasso. A outra metade vem da Europa, mas estão começando os trabalhos com representantes na América Latina. “Queremos ser uma empresa global. Por isso a parceria com a CNH é tão importante”, afirma Coutinho. Segundo ele, as vendas têm avançado 100% ao ano nos últimos três anos.
A Zasso conta com uma fábrica e um centro de tecnologia em Indaiatuba (SP), e com uma unidade menor, com produção limitada, em Aachen, na Alemanha. A sede suíça é em Zug e a companhia tem um escritório comercial em Paris.
Fonte: Valor Econômico 01.12.2020
